Estrelas somos nós
Dois vaga-lumes sós
Dois objetos sós
Tão sós, tão sós
Vamos vagando no ar
(Dominguinhos)
É falando sobre estrelas que o teórico das mídias alemão Friedrich Kittler começa e conclui seu curso sobre Mídias Ópticas, publicado em 2016 no Brasil pela editora Contraponto. O prefácio alemão abre com a frase: “Todo curso sobre mídias ópticas deveria começar com um louvor ao astro que revela aos olhos aquilo que é visível”.
Já ao final do tópico final (p. 329) do curso, ele nos propõe a imaginar um fóton individual no vácuo como a única e primeira estrela no céu noturno vazio e infinito. “Imaginem o surgimento dessa única estrela numa fração de segundo como única informação que importa”, trazendo em seguida uma citação de um romance de Thomas Pynchon:
“a margem da noite... o grande arco dos seres humanos em que todos dirigem um desejo à primeira estrela... Sempre pense nisso, em todos esses homens e mulheres em milhares de milhas de terra e mar. O momento verdadeiro da sombra é aquele em que você descobre o ponto de luz no céu. Aquele ponto singular e a sombra que, no mesmo instante, o envolve com seu golpe...”
A ida ao espaço sideral para falar do fóton articula o prognóstico de um sistema midiático que não só transmite luz na forma de luz (cabos de fibra-óptica), mas também arquiva e processa a luz, que deixa de ser uma onda eletromagnética contínua para se tornar uma partícula universal, discreta e manipulável. Cada bit individual de informação corresponde a um pixel de luz individual que consiste em um único fóton.
Cerca de 20 anos depois do curso, já se reporta em contextos científicos um novo tipo de processador quântico a base de luz, um chip de silício que guia fótons individuais ao longo de trilhas ópticas e os utiliza como qubits para guardar e processar informações.
REFERÊNCIAS
KITTLER, Friedrich. Mídias Ópticas. Contraponto. 2016.
QIANG, Xiaogang. (et. al). Large-scale silicon quantum photonics implementing arbitrary two-qubit processing. Nature Photonics.
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