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Foto do escritorRuy Cézar Campos

Kittler e as estrelas

Atualizado: 17 de mai. de 2020

Estrelas somos nós

Dois vaga-lumes sós

Dois objetos sós

Tão sós, tão sós

Vamos vagando no ar

(Dominguinhos)


É falando sobre estrelas que o teórico das mídias alemão Friedrich Kittler começa e conclui seu curso sobre Mídias Ópticas, publicado em 2016 no Brasil pela editora Contraponto. O prefácio alemão abre com a frase: “Todo curso sobre mídias ópticas deveria começar com um louvor ao astro que revela aos olhos aquilo que é visível”.

Já ao final do tópico final (p. 329) do curso, ele nos propõe a imaginar um fóton individual no vácuo como a única e primeira estrela no céu noturno vazio e infinito. “Imaginem o surgimento dessa única estrela numa fração de segundo como única informação que importa”, trazendo em seguida uma citação de um romance de Thomas Pynchon:


“a margem da noite... o grande arco dos seres humanos em que todos dirigem um desejo à primeira estrela... Sempre pense nisso, em todos esses homens e mulheres em milhares de milhas de terra e mar. O momento verdadeiro da sombra é aquele em que você descobre o ponto de luz no céu. Aquele ponto singular e a sombra que, no mesmo instante, o envolve com seu golpe...”


A ida ao espaço sideral para falar do fóton articula o prognóstico de um sistema midiático que não só transmite luz na forma de luz (cabos de fibra-óptica), mas também arquiva e processa a luz, que deixa de ser uma onda eletromagnética contínua para se tornar uma partícula universal, discreta e manipulável. Cada bit individual de informação corresponde a um pixel de luz individual que consiste em um único fóton.

Cerca de 20 anos depois do curso, já se reporta em contextos científicos um novo tipo de processador quântico a base de luz, um chip de silício que guia fótons individuais ao longo de trilhas ópticas e os utiliza como qubits para guardar e processar informações.


REFERÊNCIAS

KITTLER, Friedrich. Mídias Ópticas. Contraponto. 2016.

QIANG, Xiaogang. (et. al). Large-scale silicon quantum photonics implementing arbitrary two-qubit processing. Nature Photonics.


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